Ex-ministro
da Fazenda de Dilma Rousseff falou pela primeira vez sobre sua passagem por
dois governos com mentalidades e projetos completamente diferentes de Brasil.
Levy
estava no comando do BNDES no governo Bolsonaro, de onde acaba de sair.
Em 2015, ele aceitou a missão de
assumir o Ministério da Fazenda para promover um forte ajuste fiscal em plena
crise financeira do governo Dilma Rousseff. Em 2019, por cinco meses, foi
presidente do BNDES no governo Jair Bolsonaro, dessa vez com o objetivo de
"abrir a caixa preta" do banco e reduzir o seu escopo de atividades.
Joaquim
Levy, falou pela primeira vez sobre sua passagem por dois governos com
mentalidades e projetos completamente diferentes de Brasil. Além de Dilma, com
quem ficou 11 turbulentos meses e implementou medidas de aumento de tributos,
corte de desonerações e redução de subsídios para empresas, foi também para o
comando do BNDES no governo Bolsonaro, de onde acaba de sair.
Levy
ficou cinco meses no comando do BNDES e deixou o cargo depois de o presidente
da República declarar publicamente que ele estava "com a cabeça a
prêmio" por manter entre os quadros do banco um diretor que tinha ocupado
posição de destaque no governo Lula.
Atualmente, Levy transita por
corredores bem diferentes daqueles por onde circulava em Brasília. Faz três
meses que ele está desenvolvendo pesquisas sobre tecnologias sustentáveis na
Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Com
Dilma, ficou conhecido como "o homem do ajuste", viveu atritos com
membros do governo e do PT que eram contrários ao cortes de gastos. E não
conseguiu aprovar grande parte de suas propostas num Congresso Nacional cada
vez mais hostil ao governo Dilma.
Sob
Bolsonaro, a empreitada não foi menos tortuosa, ainda que muito mais breve.
"Eu
diria que o presidente tinha uma expectativa em relação à equipe do BNDES que
eu não consegui satisfazer na sua plenitude e eu não quis criar uma situação
constrangedora para o Paulo Guedes", disse Levy à BBC News Brasil.
Doutor
pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, que é referência no
pensamento ortodoxo e liberal na economia, Levy ainda fez parte do governo Lula
entre 2003 e 2006, quando chefiou o Tesouro Nacional. Na ocasião, recebeu o
apelido de "mãos de tesoura", por causa das amplas limitações a
gastos e empréstimos que impôs naquele período.
Acostumado
a transitar entre gregos e troianos, na entrevista à BBC News Brasil ele evitou
fazer críticas aos "ex-chefes".
A
respeito de economia, defendeu que o Brasil deve perseguir uma meta de
crescimento de 3% no ano que vem. E afirmou que os erros do governo na
divulgação da balança comercial no acumulado de novembro não devem ser
encarados "com drama".
O
valor das exportações no acumulado de novembro, que era de US$ 9,681 bilhões,
foi corrigido para US$ 13,498 bilhões -- um erro de cálculo de quase R$ 4
bilhões. Com a revisão, a balança comercial brasileira saiu de um déficit de
US$ 1,1 bilhão no período para um superávit de US$2,717 bilhões.
Diante
desse erro, o jornal britânico Financial Times publicou uma reportagem que
levanta questionamentos sobre a credibilidade dos dados oficiais da economia
brasileira. A desconfiança do mercado em estatísticas de governos levaram a
fortes quedas de investimentos externos em países como Argentina e Venezuela.
"Não consigo ver nenhum drama nessa história.
Revisões estatísticas acontecem toda hora. Lógico que o melhor teria sido não
ter tido nada. Por outro lado, acho que o governo fez o certo (em corrigir os
números)", minimizou Levy.
Yahoo Finanças Foto: Eraldo Peres/AP
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