Pesquisa realizada pela Coalizão Covid-19 Brasil
- formada pelo Hospital Israelita Albert
Einstein, Hospital do Coração - HCor), Hospital Sirio-Libanês, Hospital Moinhos
de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP - a Beneficência Portuguesa de São
Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia
Intensiva BRICNet) – concluiu que o uso da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados
apresentando nível leve a moderado de gravidade da Covid-19 não melhora a
evolução clínica da doença. A medicação também não previne a necessidade de
ventilação mecânica, não reduz o tempo de internação ou o índice de
mortalidade.
![]() |
Foto: Folha - UOL |
O trabalho foi publicado na edição online de
hoje do The New England Journal of Medicine, um dos mais respeitados jornais
científicos do mundo. A pesquisa teve a participação de 667 pacientes, de 55
hospitais no Brasil, com confirmação ou suspeita de Covid-19, internados em
estado leve a moderado de gravidade (necessitavam de no máximo 4 litros de
oxigênio por dia). Desse total, 521 tiveram o diagnóstico confirmado e
integraram o conjunto de indivíduos sobre o qual foi feita a análise principal.
Eles foram divididos em três grupos: 168 receberam hidroxicloroquina, 175 foram
medicados com hidroxicloroquina e azitromicina e 178 não tiveram adicionadas
nenhuma das drogas ao tratamento. O estudo começou em março e foi concluído em
junho.
O objetivo era analisar a evolução da doença
nos pacientes quinze dias depois do início da adoção dos modelos terapêuticos
propostos. A avaliação foi feita de acordo com uma escala de sete pontos: estar
fora do hospital sem apresentar limitações; ter recebido alta, mas manifestar
sequela; estar internado, porém sem limitações; permanecer internado e
continuar recebendo oxigênio; precisar de oxigênio, mas sem ventilação
mecânica; fazer uso de ventilação mecânica e, por fim, ter vindo a óbito.
O estudo mostrou que a adição de
hidroxicloroquina ou do remédio em conjunto com a azitromicina não teve
qualquer efeito na evolução do estado clínico dos pacientes. As taxas de mortalidade
também não foram diferentes entre os grupos. Assim sendo, durante o período de
hospitalização, a taxa de óbitos foi cerca de 3%, esperada para pacientes com
nível moderado de gravidade.
Efeitos colaterais
A pesquisa dos cientistas brasileiros não
registrou a ocorrência de eventos colaterais graves ou fatais após a
administração dos medicamentos. A observação mais significativa foi a
manifestação de um processo chamado prolongamento do intervalo QT. Trata-se de
uma alteração no ritmo elétrico do coração que pode levar à geração de
arritmias fatais. Entre os pacientes que não receberam os remédios, 2,5%
apresentaram o distúrbio. O índice foi de 16% entre os pacientes que usaram
hidroxicloroquina ou hidroxicloroquina e azitromicina. No entanto, os remédios
não elevaram o índice de arritmias graves, que foi semelhante nos três grupos.
A conclusão, pelos brasileiros, da ineficácia
do medicamento quando usado isoladamente ou em associação à azitromicina, converge
com os resultados recentes obtidos em outras pesquisas e se somará às
evidências científicas mais robustas levantadas até hoje sobre o tema.
O trabalho em conjunto permitiu agilidade ao andamento
da investigação. “A possibilidade de realizarmos estudos em aliança com os
diversos hospitais e institutos que fazem parte da coalizão maximizou recursos
humanos e materiais e possibilitou termos respostas rápidas e confiáveis em
curto espaço de tempo”, afirma Luciano Cesar Pontes de Azevedo, médico
intensivista pesquisador e superintendente do Sírio-Libanês Ensino e Pesquisa e
integrante do Comitê Executivo da Coalizão.
“Esses resultados são importantes para a
ciência global e coloca o Brasil na vitrine cientifica do mundo. É apenas o
começo do que esse grupo Coalizão do Brasil poderá contribuir para a literatura
médica e avanço da medicina que irá além da COVID-19”, reforça Renato D. Lopes,
cardiologista, pesquisador e professor da Universidade Federal de São Paulo e
da Duke University, diretor do Brazilian Clinical Research Institute.
O médico Álvaro Avezum, diretor do Centro
Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirma que “o estudo
Coalizão 1 avaliou de forma robusta a eficácia e a segurança de
Hidroxicloroquina associada ou não à Azitromicina por meio de Coalizão
eficiente com hospitais brasileiros fornecendo informações clinicamente úteis
para a prática médica em pacientes com COVID-19 hospitalizados”.
Fonte: Agência Einstein
Por: Cilene Pereira
Nenhum comentário: