Aliados do atual presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM), tentam garantir a vitória de Baleia Rossi (MDB) contra Arthur Lira (PP), o candidato que conta com apoio do presidente Jair Bolsonaro
Em dia de eleição para a presidência das casas legislativas do Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados é o ponto de disputa mais tenso e imprevisível de Brasília. De um lado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) tenta construir um sucessor na Casa, Baleia Rossi (MDB-SP), enquanto Arthur Lira (PP-AL) solidificou sua base como aliado do Planalto.
A ambígua e instável relação entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e Maia, recentemente, tornou-se uma tensa disputa, envolvendo trocas de acusações públicas e articulação nos bastidores para conquistar aliados. Foto: Agência Camara
No plano de fundo, ao menos 64 pedidos de impeachment já foram protocolados na Câmara contra o presidente. Pela legislação, cabe ao presidente da Câmara decidir, monocraticamente, se há elementos jurídicos para dar sequência aos pedidos.
O impeachment só é autorizado a ser aberto como aval de pelo menos dois terços dos deputados (342 de 513).
Maia se manteve pressionado em abrir o processo, mas já deu declarações de que não estaria disposto a pautar o assunto, a despeito das seguidas críticas feitas a Bolsonaro.
É nesse sentido, inclusive, que a campanha impetrada por Baleia Rossi nas redes sociais se pauta na “Câmara livre”. Ele indica, com isso, que a vitória de Lira representaria, potencialmente, uma intervenção do Planalto nas decisões legislativas.
Planalto no jogo
Na quarta-feira (27), Rodrigo Maia fez eco à crítica de Rossi. Segundo ele, o Governo Federal tem feito promessas de emendas orçamentárias aos parlamentares que não poderiam ser cumpridas, em razão do teto de gastos e da crise fiscal do País.
Bolsonaro chegou a sugerir a recriação de alguns ministérios – da Cultura, do Esporte e da Pesca –, ainda que tenha reconhecido que pode ser alvo de críticas ao ampliar o número das atuais 23 pastas. O presidente disse que iria interferir na eleição do Congresso.
“É um alerta aos deputados e deputadas que a intenção do presidente é transformar o Parlamento num anexo do Palácio do Planalto, o que enfraquece o mandato de cada deputado e deputada e o protagonismo da Câmara nos debates com a sociedade”, disse Rodrigo Maia.
Maia alertou que o Governo não tem maioria no Congresso e quer formar maioria apenas para o processo eleitoral. Segundo ele, a interferência do Governo terá sequelas. Na avaliação de Maia, na execução do Orçamento é preciso o mínimo de organização e compromisso republicano e democrático.
Com as movimentações do Governo que podem beneficiar Lira, levar a disputa para segundo turno pode aumentar as chances de vitória de Rossi. O horizonte ficou ainda mais nebuloso quando, na noite de ontem, o DEM – partido de Maia – resolveu adotar “neutralidade” na eleição, liberando sua bancada para votar sem definir uma orientação. A campanha do candidato do MDB agora age para evitar a saída do Solidariedade do bloco. Para vencer no primeiro turno, são necessários 257 votos.
Cargos no Ceará
Por ora, Rossi é o favorito da bancada cearense. Parlamentares do Estado iniciaram, na semana passada, um movimento em Brasília para garantir votos ao emedebista. Ainda que Rossi apresente vantagem numérica de votos no Estado, o remanejo em torno do comando de cargos federais não mobilizou os aliados de Rodrigo Maia no Ceará.
A exoneração da superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT-CE), que ocorreu em 18 de janeiro, foi entendida por parlamentares como indicativo de que substituir nomes em cargos federais poderia garantir votos para Lira no Estado.
Presencial
A Mesa Diretora decidiu, ainda no dia 18 de janeiro, que a eleição será presencial para todos os deputados. Contudo, por conta da pandemia, 21 cabines de votação foram espalhadas pela Câmara para registrar a escolha dos parlamentares. O voto permanecerá sendo secreto. O espaço destinado mede 1 metro de profundidade e 90 centímetros de largura. O local é fechado por três paredes de madeira e uma cortina, e foi apelidado por deputados da oposição de “cabine da Covid”.
Maia chegou a defender uma votação mista, presencial e virtual, para preservar parlamentares do grupo de risco. Segundo ele, três mil pessoas deverão circular pela Casa nesta segunda-feira. Ele foi vencido, no entanto, por 4 votos a 3.
Por: Felipe Azevedo
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