Estudo australiano constata que países de renda
mais alta e com maior densidade estão produzindo maior diversidade de doenças
A pressão da atividade humana sobre o meio ambiente está
contribuindo para a diversificação de patógenos (agentes causadores de doenças,
como vírus e bactérias), e o surgimento de novas pandemias iguais, ou piores,
que a Covid-19 é apenas questão de tempo, segundo cientistas. Agora,
pesquisadores australianos encontraram um modelo que pretende prever onde e que
tipos de doenças poderão afetar a humanidade no futuro.Foto: Polina Tankilevitch/Pexels
De acordo com artigo
publicado na revista Transboundary and Emerging Diseases, uma equipe de cientistas da Universidade de
Sidney constatou que países de renda mais alta, com áreas territoriais maiores,
populações mais densas e maior cobertura florestal estão produzindo uma diversidade
maior de doenças zoonóticas (transmitidas de animais para humanos). Já as
doenças emergentes (recém-descobertas, que aumentaram de ocorrência ou se
expandiram para novos locais) são mais propensas em locais de temperaturas mais
altas, como o Brasil.
As análises demonstram também
que as variáveis climáticas (temperatura e precipitação) têm o potencial de
influenciar a diversidade de patógenos. Esses fatores combinados reforçariam a
tese de que o homem tem criado — ou exacerbado — as condições ambientais para o
surgimento de outras pandemias. Segundo a publicação, três fatores resultantes
da ação humana estão associados à emergência de novas doenças: a pressão sobre
os ecossistemas, as mudanças climáticas e o desenvolvimento econômico.
Navneet Dhand, um dos autores
do estudo e professor associado da Universidade de Sidney, explica, por
exemplo, de que forma os crescimentos populacional e da densidade impulsionam o
aumento de doenças zoonóticas como a Covid-19: "À medida que a população
humana aumenta, também aumenta a demanda por moradias. Para atender a essa
demanda, os humanos estão invadindo habitats selvagens. Isso aumenta as
interações entre vida selvagem, animais domésticos e seres humanos, o que
potencializa os riscos de insetos pularem de animais para humanos”.
Entre doenças zoonóticas que
se espalharam recentemente também estão incluídas a SARS, as gripes aviária
(H5N1) e suína (H1N1), a Ebola e a Nipah — um vírus transmitido por morcegos.
Para desenvolver este modelo,
os autores usaram 13.892 combinações de patógenos únicos de 190 países, e dados
de 49 variáveis socioeconômicas e ambientais. As informações foram analisadas
usando modelos estatísticos para identificar as causas de doenças emergentes e
zoonóticas.
"Nossa análise sugere
que o desenvolvimento sustentável não é apenas crítico para manter os
ecossistemas e desacelerar as mudanças climáticas; ele pode informar o
controle, mitigação ou prevenção de doenças", disse o Michael Ward,
professor da Universidade de Sidney e coautor do estudo.
Ward explica que este modelo
pode ajudar governos e organizações a planejar políticas de saúde pública e
ações para evitar futuras pandemias em potencial.
Frederico Cursino, da Agência Einstein
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