
Já
se vão cerca de 20 anos que faço parte do vasto universo do agronegócio.
É
estranho pensar que, ao mesmo tempo que consideramos isso um período de tempo
grande, temos também a visão de que é só o começo de uma história, uma pequena
parcela da vida da gente.
Um
dos meus maiores prazeres dentro desse tempo foi estar em contato com pessoas,
com histórias. E algumas destas histórias me fazem refletir sobre o papel que
nós, membros ativos do setor, representamos na vida das pessoas.
Esta
é uma das histórias que conheci e acompanhei em minha trajetória, talvez, a que
eu mais me lembre com detalhes.
Era
um menino. A história dele começa como a de muitos outros meninos e meninas no
campo. Uma paixão desperta pela sensação gostosa de lembrar como o cheiro da
terra, do mato, entrava pelas narinas e preenchia tudo de paz e curiosidade.
Era
sua primeira recordação dessa parceria, talvez a mais forte dela.
Existia
um laço forte de união que ligava o menino e o campo: seu pai, a figura que ele
tanto amava e admirava desde quando nem podia se lembrar, e que quando comprou
uma fazenda fez surgir um novo horizonte na trajetória de seu filho, que
mudaria tudo, para sempre.
O
menino torcia para que os dias passassem rapidamente e chegasse o momento que retornaria
à fazenda. Era lá que ele aprendia, explorava, testava suas teorias e começava
a questionar: porque as coisas são feitas assim, se podemos fazer “assado” e
ter um resultado melhor?
E
aí veio a resposta: as coisas eram feitas assim porque foi essa a maneira que
seu pai encontrou de fazer as coisas de forma segura e com certa rentabilidade.
Foi um longo processo de aprendizado para ele também, de tentativas e erros ao longo
dos anos, para chegar nesse patamar em que ele estava seguro e não desejava
inovação.
Na
cabeça do menino, à medida que ele crescia, isso não fazia sentido. O desejo de
fazer diferente, de pensar por outro ângulo e agir de outra maneira era forte,
mas, apesar do respeito à opinião e decisão do pai, isso o incomodava. E foi o
que abriu mais um horizonte em sua vida.
Para
provar que estava certo e expandir ainda mais sua capacidade de fazer coisas
novas, ele se enveredou pelos caminhos da engenharia agronômica, e lá se sentiu
em casa novamente. Pôde testar, descobrir, explorar, crescer com os acertos e
os erros.
E
podia, finalmente, inovar, testando caminhos para isso.
Ele
se sentiu mais confiante e preparado do que nunca para ser o agente de mudança
na vida de seu pai, e na sua própria vida. Mesmo assim, não conseguiu abrir uma
brecha sequer para criar coisas novas, e, depois de anos de sua relação com pai
e o campo, o inevitável aconteceu.
O
declínio da atividade rural de seu pai chegou, as contas não mais batiam e não
houve outra opção. Era o fim daquela jornada deles no campo. E como ficam as
histórias contadas e vividas? E a saudade? Era tudo o que restava dentro deles.
Eu
fui descobrindo essa história ao longo do tempo, dentro de mim, da minha
experiência como guri, depois como estudante, os momentos de dificuldade como
empreendedor, e também o sucesso de fazer com que ideias que são parte de mim
tenham se tornado reais.
Sim,
essa é uma parte da minha história.
E
sabe por que faço questão de contar essa história?
Porque
não há fase de maior aprendizado, criatividade e inovação que a infância.
É
quando tudo é novo, inexplorado, atraente, curioso.
Não
somos limitados pela coerência dos adultos. É a fase da vida na qual acrescentamos
um monte de informações, em que nos espelhamos em nossa família, amigos, no que
o mundo espera de nós.
É
a fase que somos inovação em seu estado mais puro, mesmo sem saber!
A
inquietação de uma criança e seu desejo de inovar. Tá aí uma coisa que nunca
deveríamos perder.
O
desejo de tocar, de sentir coisas novas, de testar se tal solução funciona
mesmo – e o aprendizado que fica quando elas não dão tão certo assim; a
curiosidade com o que já está feito, mas não sabemos como funciona, e o feeling infantil do “porque isso ainda
não foi criado se é uma ideia tão boa? ”.
Muitas
coisas são feitas todos os dias. Muitas ideias são pensadas ao mesmo tempo, por
pessoas diferentes, em lugares diferentes. Mas só quem se dispõe a passar por
todo processo, as dificuldades e crescimento, o aprendizado, fazer, errar,
acertar, mudar, agregar... pode, na essência da palavra, desfrutar do que é inovar.
Convido
vocês agora para uma reflexão: qual foi a última vez que você ouviu o que sua
criança interior tem a dizer e lhe ensinar?
Acho
que é hora de inovarmos e criarmos como “crianças”, para melhorarmos o mundo
das próximas crianças que virão, sem aspas.
Leonardo Menegatti é
engenheiro agrônomo (Esalq/USP) e CEO da InCeres.
Saiba mais sobre a
InCeres em http://www.inceres.com.br
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