Na reportagem de hoje
da série “Ceará Sustentável” apresentamos uma iniciativa do sistema
penitenciário de reciclagem das “quentinhas” que contribuem com a natureza e
melhoram os locais de convivência dos agentes penitenciários
“Na natureza nada se
cria, nada se perde, tudo se transforma”. A frase histórica do pai da química
moderna, Lavoisier, é totalmente aplicada no sistema prisional cearense, com a
criação da nova Secretaria da Administração Penitenciária. Com pouco mais de
dez meses de gestão, o sistema penitenciário do Estado passa por mudanças
importantes e dá passos acelerados para se tornar autossustentável.
O reaproveitamento do
material da quentinha consumida pelos presos é um símbolo forte dessas ações.
As embalagens que antes era descartadas, hoje são reaproveitadas com o auxílio
dos próprios detentos. Cada apenado tem a função de lavar e embalar a marmita
utilizada e devolver para o agente penitenciário responsável pelo recolhimento.
Esse é o primeiro passo. Posteriormente, esse material é repassado novamente
para outros detentos que fazem uma nova lavagem. O material fica pronto e
levado para a empresa responsável pela reciclagem.
Após todo o processo, a unidade recebe o retorno
financeiro, e aplica essa verba em melhorias dos espaços físicos utilizados
pelos agentes penitenciários. Reformas, construções e uma unidade mais
confortável também fazem parte do plano. No Instituto Penal Professor Olavo
Oliveira II (IPPOO II) isso teve início e o resultado foi tornar a unidade em
um “canteiro de obras”, graças ao valor das quentinhas e a mão de obra do
apenado.
Gestor do IPPOO II,
Gustavo Abreu, analisou o momento do sistema penitenciário cearense e o
investimento realizado em prol do servidor. “Não podemos nos furtar de
evidenciar a grande missão que vem sendo desempenhada por todos os servidores
da unidade, por isso temos plena certeza que o investimento em qualificação
profissional, estrutura e bem-estar do servidor, se reflete automaticamente na
qualidade do serviço prestado. Pensando nisso, a SAP permitiu que os valores
arrecadados com a venda das embalagens de quentinha para a reciclagem,
anteriormente desperdiçadas, sejam revertidos em sua totalidade em benfeitorias
voltadas a qualidade laboral do agente”, relatou.
Reestruturação
Desde o início da
gestão, e com o dinheiro do material da quentinha, já foram sete
reestruturações no IPPOO 2. Foram reformados o alojamento da equipe de saúde, a
recepção da unidade e a sala do gerente de patrimônio. Além disso, novas
estruturas foram feitas na unidade, como a criação da sala do chefe de equipe,
a sala para a assistente social e, com a preocupação do bem estar e a
privacidade feminina foram criados o alojamento e o vestiário para as agentes
mulheres.
Na Casa de Privação
Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL 2), o material da
marmita também garante uma melhor comodidade para os agentes penitenciários. Os
internos responsáveis pela limpeza organizam e deixam pronto para que seja
encaminhado para algumas empresas parceiras. Também na unidade prisional, esse
dinheiro já foi revertido para a qualificação na vida do servidor. Segundo a
gerente administrativa, Conceição Galeno, alojamentos e salas de convivência
foram feitas para os agentes. “O dinheiro da quentinha que era perdido agora
ajuda a dar mais conforto para o agente. Desde que começamos priorizamos os
alojamentos. Os dois alojamentos foram reformados. Nós compramos tintas,
material elétrico e hidráulico. Fizemos um espaço especial para os agentes. É
um dinheiro que antes ia para o lixo e agora nós conseguimos melhorar a vida do
servidor, graças ao ‘start’ do secretário Mauro”, avalia.
A unidade vai mais além
e consegue dobrar os valores das quentinhas. Por meio de doação, a CPPL 2
recebeu um freezer onde são vendidos picolés. A dinâmica acontece assim: com o
valor recebido das quentinhas, a unidade compra picolés, e esses, são vendidos
para os agentes nas unidades. Com essa segunda venda a arrecadação é dobrada.
Com essa iniciativa já foram adquiridos para as unidades chuveiro elétrico no
alojamento feminino, mictórios, chuveiros e torneiras novas.
Outro produto
reutilizado e sustentável na CPPL 2 é o banner. Em parceria com a Coordenadoria
de Inclusão Social do Preso e do Egresso (Cispe) e a Secretaria do
Desenvolvimento Agrário uma equipe de 12 detentos trabalha em uma oficina
permanente construindo novos produtos com o material até então inutilizável.
A linha de produção
ocorre com dois detentos para cada função. Aquele que prepara o produto, o que
costura, aquele que pensa no melhor designer e o que finaliza o material e
deixa pronto para ser utilizado. Bolsas para supermercado, colecionadores e protetores
de garrafões de água são alguns dos produtos feitos pela equipe de apenados.
Outro bom exemplo é a
reutilização de materiais originados das 102 cadeias públicas fechadas desde o
início de janeiro. A prioridade para esse reuso é garantir mais proteção nas
unidades já existentes. A maior unidade do Estado, o Centro de Execução Penal e
Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), é um dos exemplos de presídios
que fazem um correto aproveitamento dos portões e celas que ficaram inúteis com
o fechamento das cadeias no interior cearense.
O diretor do Cepis,
Paulo José, explica como foi realizado todo o processo. “O resíduo metálico que
veio para cá estava em um estado avançado de desuso e aqui fizemos um grande
processo de manufatura. Nós tiramos toda a ferrugem que estavam nas peças,
remodelamos e soldamos. Após essa ação elas ficaram condicionadas a se
transformar em reforços de segurança para nós. Ajudou no processo de ventilação
da unidade que estava bem deficitário e também com a abertura dos janelões na
parte superior da unidade, contribuiu na segurança durante o banho de sol”,
comenta.
Segundo dados da
Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso, são 1.300 presos
trabalhando na administração prisional em todo o sistema penitenciário cearense.
Número esse que deve ser ampliado com as novas unidades prisionais que serão
entregues pelo Governo do Estado do Ceará. Os projetos de reuso e reciclagem da
SAP aumentam a necessidade de mão de obra, incorporam mais presos no cotidiano
laboral e ajudam a remir suas penas.
Idealizador do
processo, o secretário Mauro Albuquerque, avalia que além da economia para o
Estado, o movimento também é importante para a natureza. “O que era lixo e foco
de doença hoje é transformado em recurso financeiro para dentro do sistema
penitenciário. Nós fazemos reciclagem, ajudamos a natureza e melhoramos os
locais de convivência do agente penitenciário. As reformas visam as melhorias
dos alojamentos, banheiros e os refeitórios. Ecologicamente nós ajudamos com a
utilização desses produtos que viravam lixo. Temos um projeto das garrafas pets
que são transformadas em vassouras. Uma vassoura corresponde a 11 garrafas a
menos na natureza. Já as grades das cadeias públicas, que foram fechadas, são
utilizadas para dar ainda mais segurança para o servidor que tem contato zero
com o detento”, explica.
A economia de recursos
do Estado e a autossuficiência do sistema penitenciário é a grande proposta do
secretário para a sua gestão. “Nós queremos gerar o máximo de economia para as
unidades e, consequentemente, cuidar melhor dos impostos dos contribuintes.
Além de beneficiar a natureza com a reciclagem de produtos e gerar economia,
ainda proporcionamos trabalho para os presos. Nós entregamos uma profissão,
ajudamos a remir suas penas e mostramos como eles podem voltar de maneira
qualificada aos seio da sociedade”, finaliza.
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