A
assessora especial do Ministério da Economia e secretária-executiva do grupo de
reforma tributária da pasta, Vanessa Canado, afirmou nesta terça-feira (17) que
o governo pretende elevar a tributação sobre os mais ricos. Segundo ela, no
entanto, as medidas devem ser estudadas de forma a não haver uma fuga de
recursos para fora do país.
"A gente quer tributar os mais
ricos, mas a gente não quer impor uma tributação que leve os mais ricos ou o
dinheiro para fora do Brasil. Porque aí que a gente não vai conseguir tributar
mesmo", disse ela em discurso durante um evento sobre reforma tributária.
Ela afirmou que, por isso, é preciso
ter cuidado ao decidir as medidas direcionadas à tributação de renda e
patrimônio. "Com o mercado financeiro extremamente globalizado, toda a
renda e riqueza é muito móvel. Os detalhes [das medidas] fazem diferença",
completou.
Uma ideia apresentada por ela é um
ajuste para a cobrança do imposto sobre heranças que estão no exterior. Segundo
ela, essa mudança ocorreria no ITCMD (Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis
e Doações de quaisquer bens ou direitos).
A cobrança, feita por estados, é
aplicada a toda pessoa física ou jurídica que recebe bens ou direitos como
herança (em virtude da morte do antigo proprietário) ou como doação. Um
problema existente hoje é que há conflitos sobre qual ente pode fazer a
cobrança. Por isso, segundo ela, é preciso regular o tema por uma lei
complementar, que poderia ser de iniciativa tanto do Executivo como do
Legislativo.
"Se a gente quer tributar as
grandes fortunas, talvez não seja o caso de criar um imposto sobre grandes
fortunas, mas uma leizinha complementar no ITCMD que vai fazer diferença para
tributar as heranças que estão no exterior", afirmou.
Canado defendeu ainda que eventuais
mudanças no imposto de renda também devem seguir esse princípio. Para ela, uma
tributação maior pode levar os contribuintes a formas de contratação que
escapam da cobrança. Um desses movimentos é a chamada pejotização, que
representa um contrato entre duas empresas (sendo uma do trabalhador) em vez de
uma contratação por meio da legislação trabalhista.
"Precisamos tomar cuidado
porque, embora nós acordemos com relação ao objetivo de tributar mais os mais
ricos e não tributar ou tributar menos os que ganham menos, os meios fazem
diferença. Não basta publicar uma lei dizendo que as pessoas que ganham mais de
R$ 6 mil vão pagar 27,5% de imposto de renda. Há muitas formas de contratação
pelas quais quem ganha R$ 6 mil não vai pagar", disse.
Hoje, faixas salariais acima de R$
4.664,68 ao mês pagam 27,5% de imposto de renda. O governo discute a criação de
cobranças maiores para quem tem salários mais altos no país.
As declarações foram dadas em seminário promovido
pelo jornal Correio Braziliense, em Brasília.
(Foto: Lucas Seixas/Folhapress)
FÁBIO PUPO
Folhapress
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