Ex-mulher
de Adriano Nóbrega, suspeito de pertencer ao Escritório do Crime e foragido
desde o ano passado, a ex-assessora parlamentar Danielle Mendonça tinha acabado
de ser exonerada, em janeiro, do gabinete do então deputado estadual do Rio,
Flávio Bolsonaro, quando recebeu uma mensagem de Fabrício
Queiroz.
“Tá havendo problemas. Cuidado com o que vai falar
no celular”, orientou o ex-PM e ex-braço-direito da família Bolsonaro.
Eles conversaram pela última vez em 16 de janeiro,
segundo reportagem do jornal O Globo com base nas investigações do Ministério
Público do Rio que embasaram uma ação de busca e apreensão na quarta-feira, dia
18, em endereços ligados a ex-assessores e familiares do hoje senador.
Na ocasião, Queiroz queria saber se ela havia sido
intimada e a orientava a faltar do depoimento.
A uma amiga, a ex-companheira do suposto miliciano
demonstrava, também em mensagens interceptadas na operação, preocupação com “a
origem desse dinheiro”. O diálogo deixava claro que era o marido quem havia
conseguido a nomeação para ela.
As
autoridades obtiveram as mensagens durante outra investigação, a operação Os
Intocáveis, que mirou, em janeiro deste ano, a atuação de milicianos nas
comunidades de Rio das Pedras, Muzema e outras áreas da zona oeste carioca --
alguns deles suspeitos de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco e
seu motorista, Anderson Gomes.
Foi em Rio das Pedras que Queiroz buscou abrigo após
surgirem as primeiras notícias sobre movimentações atípicas feitas por ele
quando trabalhava para Flávio Bolsonaro.
Até aqui, os promotores identificaram 483 depósitos
de pelo menos 13 ex-assessores de Flávio na conta de Queiroz, num valor que
totaliza R$ 2 milhões.
Flávio Itabaiana da Costa, juiz que atendeu ao
pedido do Ministério Público, escreveu em seu despacho haver indícios de que
“houve a formação de uma organização com alto grau de permanência e
estabilidade, composta por dezenas de assessores da Alerj, nomeados por Flávio
Bolsonaro, para a prática de crimes de peculato e lavagem de dinheiro”.
Os envolvidos tiveram os sigilos bancário e fiscal
quebrados por ordem judicial.
“É óbvio o que aconteceu”, disse o procurador da
Lava Jato Deltan Dallagnol, quando surgiram as primeiras denúncias, em um chat
privado revelado pelo site The Intercept Brasil em julho.
Os indícios de que Queiroz recolhia parte dos
salários dos funcionários parecem robustos, a ponto de ele mesmo admitir, em
outro áudio vazado, que o MP tinha um “cometa para
enterrar na gente”.
A pergunta que fica é: a gente quem?
Até aqui, sabe-se que um dos destinos dos valores
movimentados por Queiroz e que chamaram a atenção do Coaf (Conselho de Controle
de Atividades Financeiras) era a primeira-dama, Michele Bolsonaro. O presidente
se defendeu dizendo que o dinheiro era para ele e se referia ao pagamento de um
empréstimo.
Sabe-se também que uma filha de Queiroz trabalhava
como personal trainer no Rio enquanto batia ponto no gabinete do então deputado
Jair Bolsonaro em Brasília.
Queiroz submergiu desde o início da crise, mas os
áudios enviados por ele a mensageiros desconhecidos demonstram uma certa
impaciência por ter sido jogado na estrada.
Em outubro, quando questionado por um cidadão onde
estava o ex-aliado, Bolsonaro respondeu com irritação: “Tá com a sua mãe”.
Fato é que Fabrício Queiroz já é um cometa imenso
que se espatifou na sala presidencial e todo mundo ali finge não existir.
O silêncio da família no dia da ação policial é
prova de que não se sabe ainda como justificar a movimentação atípica comandada
pelo ex-assessor sem que ninguém percebesse.
Flávio, que correu para se encontrar com o pai ao
fim do dia, não estaria ali se não fosse o presidente. É notório que não dá um
passo sem a aquiescência paterna.
Bandeira de campanha, o trabalho de combate à
corrupção promovido pelo governo é considerado péssimo ou ruim por 50% dos
eleitores ouvidos pelo Datafolha.
Até aqui, Bolsonaro demonstrou não saber como
responder a isso a não ser atribuindo a inimigos, reais e imaginários, a culpa
por todos os desvios desde Pedro Álvares Cabral, além de uma sanha dos
opositores para atingir sua família e minar um governo que prometia salvar o
país da corrupção.
Foto: Evaristo Sá/AFP via Getty Images / Yahoo Noticias
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