Muito presente nas regiões do cerrado, Pantanal e
Amazônia, o buriti traz muitos benefícios ao corpo humano, já que é rico em
cálcio, ferro, proteínas, dentre outros. De tão diversificado, o fruto também
presta outro "serviço" à saúde pouco conhecido: a proteção da pele.
Por isso, os estudantes Fidel Morais, 17, e Eron Pinheiro, 16,
ambos do Crato, estão desenvolvendo um filtro solar, já batizando de Ultra
Buriti. A proposta é criar um protetor mais barato que os convencionais para
que seja utilizado, principalmente, por agricultores familiares que trabalham
sob o sol. O custo médio para 100 ml do produto é de R$ 5, que seriam
investidos totalmente nos materiais utilizados para sua fabricação. "São
inúmeros casos de doenças relacionadas à pele. A gente quer ajudar a diminuir
essa problemática", justifica Fidel.
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Foto: Antonio Rodrigues |
A ideia começou no mês passado, quando os dois participaram de uma feira
escolar em Caucaia. Os dois começaram a ler artigos sobre o buriti, que é
facilmente encontrado em Santana do Cariri. "A gente pesquisou quais óleos
ofereceriam o Fator de Proteção Solar (FPS) e decidimos pelo buriti, que tem
mais proteção", completa o estudante.
Com os apoios do professor de Química e farmacêutico Cícero
Teixeira e do laboratório do Colégio Pequeno Príncipe, onde estudam, a dupla
avançou na pesquisa e mesmo no período de férias, tem tocado os trabalhos. No
buriti, foram encontrados vários componentes, como emolientes, antioxidante,
conservantes, umectante, entre outros. "Fizemos um cálculo de cada um que
deveria estar na fórmula e o óleo de buriti é o ativo do nosso protetor
solar", pontua o docente.
Os garotos também utilizam óleo de coco, que ajuda na hidratação
da pele, e de girassol, que tem Vitamina E, agindo como antioxidante e evitando
que outros óleos se desgastem. Antes de chegar a eles, fizeram testes com óleo
de copaíba, mas não obtiveram um bom resultado. "A gente foi pesquisando
outras substâncias, o método de fabricar o protetor e decidimos fazer por
emulsão: mistura de óleo, água, dando essa textura de creme", descreve
Fidel. A fabricação incluiu BHT - composto orgânico lipossolúvel e antioxidante
-, pois a Vitamina E presente no óleo de girassol não é suficiente para
estabilizar toda substância. "Comprar a Vitamina E pura sairia muito caro
e não é isso que a gente quer", reforça Fidel. O processo todo,
manualmente, dura 15 minutos.
Economia solidária
Professor de Geografia, Jefferson Feitosa sugeriu aos meninos o
contato com a comunidade Vale do Buriti, em Santana do Cariri, onde o fruto é
tão comum que batiza a localidade. "Lá, o buriti tem um significado pleno.
A renda dos moradores é muito veiculada à fabricação do doce. Muitas famílias
sobrevivem disso", ressalta. De lá, veio a ideia de comprar o óleo que os
moradores também fabricam artesanalmente e, assim, gerar uma renda para eles.
"Vai trazer um recurso financeiro. Se há mais necessidade de
matéria-prima, terão que fabricar mais óleo", completa.
Os meninos também perceberam que o rendimento seria baixo se
fabricassem por conta própria o óleo, seja em laboratório, pelo método de
prensa com a polpa desidratada, ou pelo meio mais tradicional de fervura.
"Precisaria de muito fruto e não valeria a pena. Optamos por comprar deles
porque ajuda na renda, já que são pequenos agricultores", acrescenta
Fidel.
Agora, os alunos aguardam o fim do recesso na Universidade
Regional do Cariri (Urca) para realizar testes no laboratório. Um
espectrofotômetro poderá precisar o valor do FPS do produto que fabricaram. O
contato com a instituição já foi feito e a análise deve sair em fevereiro.
Importância da Prevenção
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima a
ocorrência de 6.020 casos de câncer de pele no Ceará em 2019. Destes, 140
correspondem ao câncer melanoma, tipo mais grave devido à alta possibilidade de
provocar metástase. A diretora do Centro de Referência em Dermatologia Dona
Libânia, Araci Pontes, explica que a maioria dos casos ocorre por conta da
grande exposição ao sol. “A população residente do interior tem a questão
profissional. Muitos trabalham na agricultura, ficando muito expostos, durante
grande período de tempo, o que aumenta essa incidência. Outro grupo é o de
pescadores, que também apresenta casos com frequência”, ressalta.
Por Antonio Rodrigues /
Diário do Nordeste
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