Quem achou que a saída de Evo Morales
do poder simplificaria a política boliviana enganou-se. O exílio de Morales,
atualmente refugiado na Argentina, abriu uma disputa pelo poder dentro da
direita que pode levar o país a um segundo turno nas eleições gerais de 3 de
maio. Além disso, a Bolívia tem boas chances de eleger um presidente de direita
e também um Congresso com forte presença do esquerdista Movimento ao
Socialismo(MAS), liderado pelo ex-presidente.
Atualmente, estima-se que 70% da
população do país viva nas grandes cidades, como La Paz, Santa Cruz e
Cochabamba. Os restantes 30% habitam as regiões rurais, onde o movimento
comandado por Morales se mantém dominante. Pelas leis eleitorais herdadas do
governo do MAS, esses 30% elegem 50% do novo Parlamento (um candidato de
setores rurais precisa de menos votos para eleger-se). Os outros 50% serão
escolhidos pelos 70% que moram nas aglomerações urbanas.
O MAS preserva, segundo analistas,
entre 25% e 30% de apoio popular. Não é suficiente para vencer uma eleição
presidencial. Para eleger-se chefe de Estado, a lei exige (num modelo similar
ao argentino) 45% dos votos ou 40% com uma diferença de pelo menos dez pontos
percentuais em relação ao segundo colocado. Impossível para o candidato
esquerdista Luis Arce, ex-ministro de Morales.
O mais provável, assim, é que o
futuro presidente seja de direita ou centro-direita, se o eleito for o
ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005). Os mais cotados, sem dúvida, são a
presidente interina Jeanine Áñez e o líder de ultradireita Luis Fernando
Camacho. Mesmo que Arce consiga uma vaga no segundo turno, a expectativa é de
que as rixas sejam deixadas de lado e a direita se una. Existe ainda a
possibilidade de o MAS não disputar o segundo turno, mas todos os analistas
coincidem em afirmar que terá uma presença expressiva no Congresso.
Janaina
Figueiredo
O Globo
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