Pesquisa da Universidade da Comunidade de Virgínia revela que
mortes por enfermidades no país aumentaram 20%. Embora não tenham sido causadas
pelo novo coronavírus, foram agravadas na situação de pandemia
Pesquisadores
da Universidade da Comunidade de Virgínia (VCU, sigla em inglês), nos Estados
Unidos, descobriram que, neste ano, a cada dois norte-americanos mortos pela
Covid-19, um outro faleceu por consequências indiretas da pandemia. A
informação consta de um estudo publicado pelo periódico científico Journal of the American Medical
Association (JAMA).
O levantamento revela ainda que, durante a pandemia do novo coronavírus, os
óbitos provocados pela Doença de Alzheimer e de demência dobraram naquele país,
ao mesmo tempo que também houve elevação significativa das mortes por diabetes
e doenças cardíacas. Foto: UOL
Com
base em dados divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC,
em inglês), os cientistas analisaram as taxas de óbitos por enfermidades nos
Estados Unidos desde 2014. Até ano passado, os índices se mantiveram estáveis.
Porém, utilizando modelos de predição regressiva, eles observaram que, ao longo
da pandemia, a proporção de mortes aumentou 20% em comparação à média dos anos
anteriores. Do excedente de óbitos, cerca de dois terços (67%) foram atribuídos
ao novo coronavírus, enquanto o restante seria resultado de fatores disruptivos
causados pela Covid-19.
“Algumas
pessoas que nunca tiveram o vírus podem ter morrido por causa de interrupções
causadas pela pandemia. Isso inclui indivíduos em situação de emergências
agudas que não encontraram atendimento, pacientes com doenças crônicas como
diabetes que não foram devidamente tratadas ou doenças mentais que levaram a
overdoses ou a suicídios”, afirma o coordenador da pesquisa, Steven Woolf,
diretor do Centro de Sociedade e Saúde da universidade norte-americana.
O
cientista ressalta que o impacto da pandemia na mortalidade pode ser ainda mais
amplo. Isso porque os dados da CDC não incluem, por exemplo, falecimentos
causados por uso de substâncias químicas, que também tiveram aumento.
Somente no Centro Médico da VCU, o número de pacientes com overdose aumentou
123% em relação ao ano passado, como revelou um outro levantamento feito pela
universidade.
Além
disso, Woolf aponta para outras implicações de longo prazo, como o possível
aumento de mortes prematuras evitáveis. Um exemplo são pacientes com câncer que,
devido à pandemia, tiveram o tratamento interrompido, ou mulheres que adiaram o
exame de mamografia.
“E
a morte é apenas uma medida de saúde. Muitas pessoas que sobreviverem à
pandemia terão complicações de doenças crônicas por toda a vida. Imagine alguém
com fatores de risco para acidente vascular cerebral agravados pela ausência de
cuidado nos últimos meses e que teve medo de procurar o hospital”, afirma o
médico. “Essa pessoa pode sofrer um AVC e ficar com sequelas neurológicas
importantes e permanentes”, acrescenta.
O
estudo ajuda a reforçar a mensagem contra fake news cujo intuito é menosprezar
os impactos da doença: “Ao contrário dos céticos que afirmam que as mortes de Covid-19
são falsas, ou que os números são muito menores do que divulgado nas notícias,
a nossa pesquisa, assim como muitos outros estudos sobre o assunto, mostra
exatamente o oposto”, completa Woolf.
(Por: Frederico Cursino, da Agência Einstein)
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